Por Alexandre Fonseca
Na minha adolescência, o único esporte que me deixaram praticar foi o vôlei, ainda assim, só participava dos treinos, como uma forma de inclusão. O treinador jamais permitiu que jogasse uma partida completa em quadra, porque não queria correr o risco de uma criança com histórico de asma grave, precisar de uma ambulância no meio de um campeonato decisivo. Seria uma interrupção desnecessária, facilmente evitada.
Apesar disso, me sentia parte do time, 2007 foi um ano marcante por esse fator. Antes, jogava bola, tinha crises de asma minutos depois, andava de bicicleta, mais crises. Com o passar do tempo, fui sendo acompanhado por uma pneumologista e fomos descobrindo o que poderia fazer. Até que o vôlei surgiu, em uma mudança obrigatória de escola. A antiga Escola Municipal Joaquim da Silveira Borges, atualmente, Escola de Artes, foi a única que integrou aquele Alexandre magrinho e asmático, na disciplina de Educação Física.
Sabendo do meu quadro evolutivo, a médica sugeriu me matricular na natação. Um esporte que me faria ter muitas sensações ao longo dos anos, frustração seria uma delas, tendo em vista que minha família não tinha condições de pagar por aulas particulares, e o meu desejo de praticar era forte. Sem ter uma noção clara, estava começando a moldar um sonho.
Infelizmente, o sistema dificultava muito o acesso de uma criança de família de baixa renda, a certas realidades. Mãe me contou que foi em busca de clubes privados, procurou o Sesc, foi até a sede da CSU, no bairro Abolição I, aqui em Mossoró/RN, um local que ofertava diversos cursos em áreas profissionais e esportivas, gratuitamente. No entanto, o nado não era contemplado, apenas outras modalidades esportivas. O tempo passou e fui seguindo o tratamento da asma, sem nadar.
Sempre fui amante da água, já visitei vários rios e mares pelo Nordeste. Durante a pandemia, as praias se tornaram refúgios, lugares para desacelerar o coração, vencer a ansiedade. Antigamente, em datas festivas, os parentes se reuniam na Zona Rural de Grossos, na Comunidade Córrego e isso me causava uma felicidade sem tamanho. Tínhamos a oportunidade de desfrutar do litoral, como um cantinho de afeto e de boas lembranças. Ficava extremamente entusiasmado. Me recordo bem, que em várias ocasiões, cerca de 30 a 40 pessoas acordavam por volta das cinco horas da manhã, caminhavam por quase 1 hora, só pra passar o dia na praia de Pernambuquinho. Naquela época, calma, serena, familiar e muito aconchegante, não que hoje em dia não seja… No passado, já foi bem mais.
Eram nesses momentos que aproveitava bastante, horas e horas no mar, saindo após muitos gritos da minha mãe, só pra forrar o bucho, como a gente costuma dizer aqui na região. Memórias incríveis! Mas, ainda não tinha realizado o sonho de aprender a nadar. A sede pelo esporte foi crescendo além da necessidade de um tratamento de saúde. O fato de não poder executar de imediato, gerou tristeza, inconformidade e concebeu também, a determinação de um dia, me colocar no contexto de um Alexandre, praticante do esporte.
As coisas mudaram! Dia 18 de agosto de 2023, completei um ano como aluno da disciplina de nado, no Sesc. Nem sou mais aquele Alexandre magrinho, ainda assim, pratico o nado livre (crawl), de costas, de peito, borboleta, faço golfinhadas, giros completos… Estou aprimorando minhas habilidades semana após semana, me dedicando para, no futuro, ser integrante de competições e adquirir conquistas. Quem me rodeia, tem o conhecimento da minha paixão esportiva por várias categorias. Corro, pedalo (inclusive com medalhas obtidas a partir de desafios virtuais/presenciais), faço rapel e escalo de vez em quando.
Alterei as circunstâncias e me dei o direito de ter algo almejado por um longo período. A experiência tem sido maravilhosa. Dias atrás voltei ao mar, fui até a praia das Emanuelas (Tibau/RN) e nadei como se estivesse em aula. Foi uma tarde extraordinária! Carrego um sentimento de paz pela realização no esporte. Só eu sei o quanto queria já tê-lo no currículo da minha vida. Dizem que tudo acontece por uma razão… Quem sabe o destino estava esperando eu virar colunista e relatar o fato aqui, como mais um dilema da minha existência.
O que importa, na verdade, é que consegui! Mesmo diante de uma série de desafios, poder contar hoje que, independente das minhas limitações físicas, dos problemas financeiros de anos atrás, busco desempenhar o objetivo pessoal de me sentir feliz com determinadas tarefas que decido inserir nas minhas vivências. E poder ter certeza, algumas situações vão demorar a acontecer na sua jornada, seja por inúmeros obstáculos ou pela falta deles, só não remova as suas ambições da lista de propósitos que lhe pertence. Uma hora dará tudo certo! E não esqueça: só você pode realizar os seus sonhos! Faça como eu, nade!
Alexandre Fonseca é jornalista, cineasta, escritor, produtor cultural e também pratica natação.