Por Hugo Garbe, professor de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)
Ainda não há uma data para o anúncio das medidas que o governo promete para atenuar os impactos do chamado “tarifaço”, imposto pelos Estados Unidos. Enquanto isso, o tempo corre e, com ele, a apreensão de setores exportadores que observam, preocupados, seus contratos e margens ameaçados. Não é difícil entender a cautela: o espaço fiscal é apertado, a arrecadação não tem fôlego para novos desembolsos e qualquer gasto adicional pressiona metas já fragilizadas.
Nesse contexto, cada dia sem definição reforça a sensação de que o desafio talvez não seja apenas técnico, mas político e diplomático. Criar um pacote que não fira o equilíbrio fiscal exige criatividade e, muitas vezes, concessões internas. Mas também é verdade que a economia, nesse tipo de impasse, responde melhor a soluções negociadas na origem do problema do que a remendos caros no seu desfecho.
O governo afirma que a proposta em estudo não terá impacto nos parâmetros fiscais. É uma meta ambiciosa, quase paradoxal, diante de um cenário que demanda recursos. Subsídios, linhas de crédito e incentivos custam dinheiro, e esse é justamente o recurso mais escasso no momento.
Talvez fosse mais pragmático investir esforços em uma mesa de negociação com Washington, ainda que isso envolva complexidades diplomáticas. Reduzir tarifas pela via política é, em muitos casos, menos custoso do que criar mecanismos de compensação interna que, inevitavelmente, acabam se espalhando pelo orçamento e ganhando vida própria. Em crises comerciais, o imediatismo pode ser tentador, mas nem sempre é a estratégia mais inteligente.
Ainda que o discurso oficial fale em proteger a indústria nacional e preservar empregos, qualquer intervenção dessa natureza esbarra em um dilema antigo: como financiar a proteção sem desequilibrar ainda mais as contas públicas? No cenário atual, em que o governo já lida com despesas crescentes e uma arrecadação volátil, cada real destinado a medidas emergenciais precisa ser retirado de outro setor ou compensado com aumento de receita, algo politicamente desgastante.
A experiência brasileira mostra que medidas de socorro econômico, quando não calibradas, tendem a se transformar em compromissos permanentes, pressionando o erário por muito mais tempo do que a crise que as originou.
Além disso, existe um custo de oportunidade pouco debatido. Recursos e energia política que poderiam ser direcionados para um diálogo mais assertivo com os EUA acabam sendo absorvidos pela construção de um pacote interno de difícil execução. Negociar tarifas diretamente com a administração norte-americana exigiria articulação e paciência, mas teria potencial de solucionar o problema na raiz, preservando o caixa e evitando a criação de novos passivos fiscais. A opção por um caminho mais custoso e indireto pode não apenas onerar o presente, como também comprometer a capacidade de resposta a crises futuras.
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