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segunda-feira, 25 de novembro, 2024
Por Vonúvio Praxedes
segunda-feira; 25 novembro - 2024

Ao meu Peixe Gordo, com muito amor

Texto de Nathalia Rebouças*
Lá onde as famílias eram numerosas. Terra de pés de caju, de tamarina, de coco. “Nessa terra em se plantando tudo dá”, frase da descoberta do Brasil que retrata bem a nossa comunidade, Peixe Gordo, localidade rural de Icapuí, bem na divisa entre o Ceará e o Rio Grande do Norte.

Peixe Gordo é a origem de muitas famílias. Algumas que migraram para Mossoró, Fortaleza, em busca de dias melhores. De muitos homens fortes, sertanejos, que viveram da agricultura de subsistência e puderam conduzir famílias de 10, 15, 18 filhos.

É terra do meu avô materno José Emídio, ou Zeca Emídio, como sempre foi mais conhecido. Agricultor, criou 12 filhos em meio às dificuldades da época e das suas próprias mãos foi construída a casa de taipa que hoje ocupa lugar no chamado Recanto, pedaço de chão de Peixe Gordo.

Casa de Zeca Emídio ainda em pé em Peixe Gordo – foto: arquivo pessoal

É terra do meu avô paterno Pedrinho Teodósio. Brincalhão, inteligente, homem de alta estatura e muito sábio. Até hoje sou impressionada com a habilidade que o meu pai herdou de saber todas as datas de nascimento de dezenas de primos e parentes que ali residiam.

De lá também veio a primeira professora da comunidade, minha tia Zélia. Expressiva, comunicativa, ensinou as crianças de Peixe Gordo a ler e a escrever sob as sombras da tamarineira centenária da casa de vovô Pedrinho.

Peixe Gordo tem cheiro de café quentinho da tarde. Da tapioca feita com muito coco. Tem o som dos pássaros e o embalo do chocalho do gado criado pelo meu tio Dedé, que levava seus animais e na madrugada iniciava a labuta. Meu tio Dedé nos deixou cedo demais.

A nossa terra é lugar de gente simples, honesta, trabalhadora. Que não renega as origens. Que nunca substituiu as casas dos patriarcas, feitas de taipa por residências de alvenaria.

Era o lugar de dormir de janelas abertas, com os alpendres tomados por redes. Mas que com o progresso precisou se reinventar. A estrada construída na lateral da casa de vovô Pedrinho dá acesso à comunidades como Cacimba Funda. E passou a ser ponto de passagem de caminhões e veículos de grande porte. O crescimento da energia sustentável também deu a Peixe Gordo o cenário de torres eólicas. O céu da minha terra mudou. Tem a composição de menos estrelas e mais hélices girando para gerar energia.

Mas se muito mudou, em essência somos os mesmos. Peixe Gordo é lugar de nostalgia, reencontros, da festa de Santo Antônio, da praia deserta e do mar quentinho e limpinho.

Peixe Gordo não é terra de ganância, de desonestidade. É aqui que preservamos a memória das nossas antigas gerações e somos gratos por esse pedaço de chão, fruto de muito trabalho e dedicação dos nossos antepassados.

*Nathalia Rebouças é Jornalista

Casa de Mãe Véia, deixou saudades no local – foto: arquivo pessoal
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1 COMENTÁRIO

  1. Traduziu em suas palavras o sentimento de todos que ali amam essa terra. Só quem sabe o valor do sentimento em si de pisar na terra dos nosso antepassados e sentir o amor e a brisa de recordações de historias ali tanta vividas. Que orgulho do seu texto e li com olhos marejados por que sei que veio do coração. Adorei seu texto, preciso, direto e singelo nas palavras mais ainda sentido demais.

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