Por Nathalia Rebouças
“Empoderem-se!”. Tá, e se eu não quiser?
Brincadeiras à parte, o Dia Internacional da Mulher ganhou grande notoriedade na última década. Incorporado à redação publicitária de marcas, à forte presença em discursos nas redes sociais e figuras representativas de gênero, é até difícil escrever algo sobre a importância da mulher sem que a palavra empoderamento não esteja presente. Tudo bem. Mas e as “mulheres não empoderadas”? Aquelas que ainda não tiveram contato com o vocabulário feminista ou com as referências de Beauvoir a Hooks e que sequer entendem o conceito de empoderamento, mas que estão aí, inviabilizadas na rotina, mergulhadas em tarefas, dentro e fora de casa, criando filhos ou não e até reproduzindo falas consideradas machistas.
Como movimento libertário de defesa da autonomia das mulheres, o movimento feminista é amplo. E deve ir além dos estereótipos que encaixam as mulheres em grupos ou correntes, que defendem um modelo do que é ser feminista. E tal qual um movimento libertário, sua presença pode e deve percorrer as diferentes correntes ideológicas, evitando que a ideia e os conceitos feministas estejam aprisionados a partidos políticos ou grupos sectários.
Compreender que o feminismo é diverso implica em se desprender de visões distorcidas e limitantes.
Dona Neusa, mulher, mãe de 5 filhos, dona de casa, que nunca ouviu falar de equidade de gênero, não pode ser menos feminista do que aquelas que empunham bandeiras e falam gritos de ordem.
Um dos grandes desafios dos movimentos identitários é ir além dos muros que o cercam. Ou mesmo reverberarem as vozes para além dos grupos minoritários que falam apenas para si e não conseguem alcançar novas pessoas. É preciso ampliar, incluir e sair do clichê da pauta identitária. E se existe a crítica aos textos prontos repletos de adjetivos superlativados que retratam mulheres extraordinárias, especiais ou guerreiras, os grupos de defesa da causa das mulheres também precisam falar para todas, aquelas que não estão nem aí para empoderamento e aquelas que hoje estão de saco cheio do rótulo de guerreiras, porque estão bem cansadas.
Nathalia Rebouças é Jornalista