Por Alexandre Fonseca
Se eu precisava de uma rasteira pra entender que não tenho absolutamente nada sob controle, a vida fez questão de me derrubar com todo gosto. Carrego o dilema de fugir da estagnação, mas parece que cada escolha feita durante os últimos 12 meses, me trouxe para uma realidade de ciclos repetidos e nenhuma conclusão. É nadando e se afogando o tempo todo.
Obviamente tive muitas realizações, porém, não o bastante. Não o suficiente para sentir que estou concluindo 2022 como gostaria. Enxergo uma caminhada cheia de frustrações, com metas e objetivos pendentes, com início de atividades e desistências das mesmas, com o cansaço de lutar por determinadas coisas, ser impedido de realizar sonhos… A lista é enorme! Até previsível demais eu me tornei.
Fiquei muito confortável num mundo criado no meu subconsciente. A pandemia, como já relatei aqui em textos anteriores, modificou traços da minha personalidade. Uma transformação arrastada pelos anos, com o esgotamento de ter sempre as mesmas experiências e naquele contexto, as decisões tomadas com a intenção de gerar algumas modificações de cenários, pareciam ser corretas. Não tinha como agir de outra forma. O problema é que a conta chega. E veio com toda força!
Juro! Estava preparando uma última publicação que faria homenagens e relembraria as histórias de dois rapazes que o meu trabalho jornalístico me fez conhecer. E eles estão sempre nos meus pensamentos, pois, são duas lições de vida, que me fazem recordar, o tamanho da força que propagaram e do legado que deixaram.
Infelizmente, os dois faleceram jovens pelas mãos do sistema. Aquele antigo que faz parte da conjuntura de qualquer criança ou adolescente de um bairro marginalizado. Mas vou deixar para escrever sobre isso em outro momento ou talvez nunca escreva. Apesar de mudar o foco do meu último texto de 2022, de certa forma, eles ainda fazem parte disso, por me ajudarem a enxergar as coisas como realmente são.
Voltando as minhas indignações e análises, reconheço que apesar de todas as dificuldades enfrentadas até aqui, posso contar que consegui ultrapassar algumas delas, sem sequelas. Outras, nem tanto! Foi também um 2022 em que compreendi a capacidade de implantar novas dinâmicas aos meus dias, de afastar a toxicidade presente nas pessoas e as próprias pessoas. E ainda, de me arrepender amargamente por não ter corrido atrás e explicado para quem merecia, quando questionado: qual é o seu problema, Alexandre?
Eu não quero projetar 2023 agora, sinto que se continuar direcionando minha vida nesse ritmo, vai ser mais do mesmo e um comportamento repetitivo não traz definitivamente nada de novo. Não modifica, não cresce, não se desenvolve. Então, quero fechar avaliando que prestes a fazer três décadas de vida, necessito de variações drásticas. Agora que está cada vez mais claro a falta de domínio, preciso melhorar o gerenciamento das minhas ações e torcer para que as consequências sejam diferentes. Só não sei quando vou iniciar!
Alexandre Fonseca é jornalista, cineasta, escritor e produtor cultural.