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quarta-feira, 30 de outubro, 2024
Por Vonúvio Praxedes
quarta-feira; 30 outubro - 2024

O impedimento da candidatura de Silvio Santos

Nas eleições presidenciais de 1989, o candidato com a maior intenção de votos foi convencido a deixar o pleito

As eleições de 2022 ainda nem chegaram, mas os especialistas já preveem o cenário de polarização. Assim como nos dois últimos quadriênios, as opiniões dos cidadãos estarão bem divididas entre esquerda e direita, enquanto uma terceira via segue como alternativa dessa dualidade.

Seguindo um pequeno regresso temporal, em 1989, pode ser observado que a situação era bem similar. As disputas presidenciais daquele ano marcavam o retorno pleno do país à democracia com a primeira candidatura eleita por voto direto. Além da separação entre as frentes econômicas e trabalhistas na política, havia também a inflação em alta, como acontece atualmente.

“Após mais de duas décadas de Regime Militar, os cidadãos poderiam exercer novamente o seu direito de escolha para o principal gestor do país”, relembrou Marcondes Gadelha – Presidente do PSC, médico e Senador (1983-1991) e deputado federal por seis mandatos. “O sentimento que pairava sobre o ar era de liberdade política. Tanto que 21 candidatos se apresentaram para pleitear o cargo”, disse ele.

A fala aconteceu durante o #12 episódio do podcast Liberdade em Foco. Disponível no Spotify no site da Fundação da Liberdade Econômica (FLE), o programa tem como foco debater temas de relevante análise para que se possa ser entendida a conjuntura política e econômica tanto brasileira como mundial.

À frente desta iniciativa está Márcio Coimbra que, além de presidente da FLE, é também cientista político, mestre em Ação Política e coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie de Brasília (FPMB).

Coimbra conta que no fim da década de 1980, inicialmente a disputa presidencial estava entre Fernando Collor de Melo (antigo PRN) e Luís Inácio Lula da Silva (PT). Silvio Santos, com grande popularidade em todo o Brasil, despontou então como uma terceira via aos dois principais candidatos.

“Silvio é considerado um excelente gestor em todo o país, sendo o fundador do Sistema Brasileiro de Televisão – SBT. Na época, ele era considerado uma alternativa aos seguimentos de direita e esquerda”, frisou o presidente da FLE.

A previsão era que, caso Silvio Santos se candidatasse, seria o único a superar Fernando Collor nas urnas. Em um dos levantamentos, divulgado pelo extinto Jornal da Tarde, o acionista majoritário do SBT detinha 34% das intenções de votos. Se estava destinado ao sucesso, como a candidatura dele não aconteceu?

Conspiração

Gadelha é autor do livro “Sonhos sequestrados: Silvio Santos e a campanha presidencial de 1989”. Além de ter vivenciado de dentro do congresso a disputa presidencial, ele tornou-se um grande conhecedor do assunto. Sobre o cenário que pairava nas eleições daquele ano, ele explica:

“Se havia uma divisão entre os eixos de esquerda e direita, nada mais óbvio do que criar um polo de centro. Precisávamos de um candidato que fosse imbatível frente aos outros concorrentes”, rememorou.

Segundo o ex-senador, para barrar a candidatura do empresário e apresentador de TV, foi organizada uma verdadeira coalizão coordenada principalmente por Roberto Marinho, principal gestor da Rede Globo de Televisão; Antônio Carlos Magalhães e também João Leitão de Abreu, que são ex-senador e ex-ministro da Ditadura Militar, respectivamente.

“Eles não podiam deixar Silvio Santos chegar às ruas. Caso contrário, ele seria implacável”, comentou Gadelha. “Ele foi dissuadido por figuras de grande influência na política da época que garantiram a movimentação no Planalto para barrar a sua campanha”, explicou.

Colocando em prática as intenções conspiratórias estava Eduardo Cunha, que na época integrava a equipe de Collor no Partido da Reconstrução Nacional (PRN). Levando sua estratégia à justiça, ele argumentou que o Partido Municipalista Brasileiro (PMB), sigla que Silvio Santos ingressou, não tinha realizado convenções em nove estados da federação, como mandava a lei vigente.

“Em quaisquer circunstâncias, Silvio não poderia se candidatar. Mesmo se ganhasse a eleição, os conspiracionistas tentariam impedir que ele assumisse o cargo. Então o próprio apresentador decidiu não entrar com recurso”, recordou Gadelha.

A terceira Via

Para os apoiadores, Silvio transmitia uma imagem fiel de autoridade para para trazer à esfera pública o conhecimento das instituições privadas. Seguidor afinco de Roosevelt, 32º presidente dos Estados Unidos, ele valorizava a criação de empregos como principal frente de combate à inflação.

Para superar a crise, o presidente do PSC argumenta que o futuro gestor do país precisaria retomar a produção de bens físicos, tendo como principal estratégia a geração de empregos.

“Silvio Santos queria colocar o povo para trabalhar”, esclareceu Gadelha. “O mercado precisava que fosse resgatada a fabricação de produtos primários, o cerne da economia brasileira. Fato que fazia dele o candidato ideal para aquele momento”.

A terceira via se refletia no candidato não apenas pelo seu posicionamento econômico, mas também pelas suas relações dentro do Congresso. A esperança era de que ele realizasse mais pelo país do que seus adversários.

“O exemplo de vida de Silvio transparecia na sua atuação que, além de empresário de sucesso, era também um grande político que sempre conseguiu transitar neste meio com muita facilidade. Isso pode ser percebido na sua campanha que aconteceu em meio a reuniões tanto com líderes partidários de esquerda quanto de direita. Compreender este processo é essencial para entender a história recente da política brasileira e também analisar o cenário das eleições que estão por vir”, concluiu Coimbra.

Via Fundação da Liberdade Econômica (FLE)

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