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Mossoró
quinta-feira, 2 de janeiro, 2025
Por Vonúvio Praxedes
quinta-feira; 2 janeiro - 2025

Em nome de Deus e da lei, está encerrada mais uma legislatura

Assim como a minha esperança de diálogos producentes vindos da Câmara…

Por Danilo Queiroz

Como já havia acontecido em outros momentos ao longo do ano, mais uma vez me vi na galeria destinada aos assessores e à imprensa da Câmara Municipal, surpreso com o que acabara de presenciar. Contudo, àquela altura, nada vindo dali deveria me surpreender.

— Se essa foi a pior legislatura da história, fico preocupado com a minha! — exclamou um vereador eleito, cujo nome prefiro não revelar, por uma questão de ética. Se estiverem curiosos, basta procurar entre os 21 eleitos em 2024, e imaginar essa frase sendo expelida da boca de cada um.

A franqueza daquele parlamentar chamou minha atenção, pois deixava claro algo preocupante: não é apenas a população que tem uma visão crítica; eles também têm. Isso não deveria acontecer na chamada “Casa do Povo”, ao menos em teoria. Na prática, porém, reflete os anseios de uma sociedade descrente da política, mas profundamente apegada às suas próprias convicções.

Essa percepção sobre a Câmara foi crescendo em mim como uma gripe. Primeiro, vem a dor de garganta; depois, as vias aéreas entopem; e, por fim, surge a febre. Antes de todos esses sintomas, no entanto, eu estava “são”. E, para ser sincero, também estava empolgado.

Quando recebi a notícia, em maio, de que seria escalado para cobrir a Câmara Municipal de Mossoró, fiquei animado. Apesar da minha curta trajetória no jornalismo, a ideia de cobrir essa editoria era um sonho, especialmente em ano eleitoral. A partir dali, estava garantida minha presença no plenário às terças e quartas-feiras, entrevistando os, então, 23 representantes eleitos pelo povo de Mossoró.

Minha expectativa de testemunhar debates acalorados em prol da população, devido ao período eleitoral, desapareceu rapidamente. Como se não bastassem os frequentes episódios de sessões prejudicadas por falta de quórum (algumas sequer chegaram a começar), o desempenho dos vereadores no plenário parecia estar muito aquém do esperado. Salvo alguns nomes que se destacaram por cumprirem suas obrigações, o restante era esquecível. Mas suas ações, essas não eram.

Os episódios curiosos eram inúmeros. Um vereador tentou evitar a quebra de quórum ao buscar colegas que haviam ido tomar café; outro se emocionou com os drones do Alok; e um terceiro votou contra uma simples correção ortográfica. Juro que isso não é roteiro de sitcom: são fatos reais, e as transmissões da TV Câmara estão aí para provar.

Além disso, havia situações que só quem estava presente percebia, já que as câmeras não mostravam. Vários vereadores assistiam fervorosamente ao feed do TikTok durante as sessões. Se minha memória não me falha, um deles chegou a cair no famigerado “gemidão”, embora o volume estivesse baixo. Se isso é verdade ou não, deixo ao julgamento do leitor. Afinal, desta legislatura, eu já não duvido de nada.

A indignação, pelo visto, não era só minha. Colegas da imprensa também expressavam descontentamento, assim como parte da população, seja nas redes sociais ou em comentários durante as transmissões do Meio Dia TCM na Rádio 95 FM. A resposta veio nas urnas: 62% dos eleitos — ou seja, 13 parlamentares — são novatos ou estão retornando após um período sem mandato. Apenas oito vereadores se reelegeram. Se o comportamento dos representantes reflete as convicções da sociedade, a mudança precisa começar tanto nas urnas quanto no engajamento da população com a política local.

Apesar do tom pessimista do vereador que conversou comigo na última sessão do ano, guardo uma ponta de esperança de que os debates na Casa se elevem intelectualmente e passem a atender melhor às necessidades reais da população de Mossoró. Esse desejo transcende posições de situação ou oposição — é um anseio coletivo.

Estava prestes a encerrar este texto quando me lembrei de um caso que me fez ferver de indignação:

— Como voto, líder? — perguntou um vereador ao líder de sua bancada, durante uma votação cujo texto claramente contrariava os interesses do prefeito.

Meu amigo, você recebe mais de 12 mil reais de dinheiro público, sem contar os benefícios que o cargo lhe proporciona. Prestar atenção às sessões não seria o mínimo?

Ou talvez eu esteja sendo rude. Será que apenas para mim, um humilde jornalista com ensino superior, o texto era claro? Se for o caso, talvez eu devesse me candidatar a vereador.

Não… Melhor deixar para lá. Se essa foi a “pior legislatura da história” e a próxima promete ser ainda mais “catastrófica”, o que o futuro reservaria à minha legislatura hipotética?

Isto é, se eu fosse eleito. Certamente, um texto como este não vai me render muitos amigos na política. Além disso, nem sou tããão popular assim. Não é autodepreciação, é só autocrítica mesmo.

Quanto à Câmara, boa sorte aos que permanecem e aos que vão acompanhar essa nova legislatura. Com sorte, estou desejando isso para mim também.

Danilo Queiroz é jornalista, escritor, roteirista, produtor audiovisual e repórter do grupo TCM Telecom. Cobriu a Câmara de Vereadores de Mossoró entre maio e novembro de 2024.

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