Por Ulisses Reis*
As eleições de 2024 prometem ser uma das mais disputadas na corrida eleitoral da cidade de Mossoró/RN. Mudanças legais, como o aumento do Fundo Eleitoral, a redução de duas vagas e a diminuição do número de candidatos por partido, trazem uma atenção especial para a disputa na Câmara Municipal. Diferentes partidos e candidatos enfrentarão o desafio de adaptar suas estratégias ao novo cenário de recursos eleitorais disponíveis.
Um dos problemas enfrentados nas tumultuadas eleições de 2020, realizadas em meio à pandemia de Covid-19, foi o atraso na realização do Censo. Os atores políticos e as instituições organizaram o pleito sem uma noção precisa da segmentação etária da população brasileira, baseando-se apenas em pesquisas amostrais realizadas pelo IBGE ou por empresas privadas. Essa lacuna foi preenchida em 2022, quando o Censo foi finalmente realizado.
Um dos dados mais importantes revelados pelo Censo 2022 refere-se à pirâmide etária brasileira. Na última década, o Brasil passou de um país predominantemente jovem para uma população madura. As faixas etárias que abrigam o maior número de brasileiros situam-se entre os 20 e os 44 anos. A população idosa (com 60 anos ou mais) aumentou proporcionalmente 56% em relação a 2010. Análises indicam que o Brasil perdeu, nessa transição, o “bônus demográfico” do desenvolvimento econômico.
Mas como essa segmentação está distribuída para as eleições municipais de 2024 em Mossoró/RN? Onde partidos e candidatos encontrarão maior potencial de recrutamento de eleitores? Utilizamos dados abertos do TSE para responder a esta questão. O município contará com 184.656 eleitores registrados em 2024, com dados atualizados em 15 de julho de 2024. Nossa análise seguiu os seguintes passos:
- Excluímos os eleitores que não possuem registro de faixa etária;
- Excluímos também os eleitores que optaram por não informar o seu gênero.
- Agrupamos os eleitores pelas observações de gênero e faixa etária constantes nos dados do TSE.
- Somamos os eleitores dentro de cada perfil.
Após esse tratamento, nossa base de dados manteve 184.647 eleitores. Os resultados desta segmentação estão expostos na pirâmide etária abaixo.
Principais elementos da segmentação
Dois elementos podem ser destacados pela visualização piramidal: a proporção de eleitores por gênero e a distribuição proporcional de eleitores nas faixas etárias.
A segmentação por gênero demonstra que, em todas as idades (com exceção dos 16 anos), Mossoró/RN tem mais eleitoras mulheres que homens. Esse é um dado interessante para uma cidade que se orgulha de ter tido a primeira eleitora do Brasil e da América Latina.
Uma leitura superficial dos dados pode levar à ilusão de que candidatas mulheres têm vantagem sobre os homens na corrida eleitoral. Isso não é necessariamente verdade. Embora pesquisas de opinião indiquem que mulheres tendem a votar em outras mulheres, a realidade é que os obstáculos estruturais às candidaturas femininas – como subfinanciamento eleitoral e o baixo número de candidatas – ainda são significativos. Algumas iniciativas buscam modificar esse cenário, mas ainda estamos longe de ver mudanças relevantes.
A distribuição etária
A distribuição das idades em Mossoró/RN segue um padrão distinto da pirâmide etária populacional do IBGE. O levantamento do IBGE aponta uma distribuição equitativa das faixas etárias entre 15 e 44 anos, com proporções que começam a diminuir à medida que o topo da pirâmide é alcançado, mas com uma presença significativa de idosos.
Nas eleições de 2024 em Mossoró/RN, a pirâmide etária mostra uma alta concentração nas faixas de 21 a 59 anos, agrupando aproximadamente 66,8% do eleitorado. Os jovens de 16 a 24 anos representam apenas 12,6% dos eleitores. Idosos acima de 60 anos constituem 20,5% do eleitorado. É interessante notar que jovens de 16/17 anos representam um eleitorado irrisório, com 0,5% de homens e 0,6% de mulheres.
Oportunidades eleitorais
Onde está, portanto, a maior oportunidade na competição política etária das eleições 2024 em Mossoró/RN? Jovens adultos (25 a 34 anos) e pessoas de meia-idade (35 a 59 anos) representam a maior fatia de votos disponíveis. Candidatos que buscam votos e que ainda não estão dialogando com esses segmentos deveriam ampliar sua comunicação para essas faixas etárias majoritárias, se quiserem ter maior ressonância em seus discursos. Caso contrário, esses candidatos dependerão de dividir menos votos dos segmentos jovens ou idosos com seus concorrentes, se quiserem ter uma chance real de ingressar na Câmara Municipal de Mossoró/RN.
*Ulisses Reis é Professor e Pesquisador nas áreas do Direito Constitucional e do Direito Eleitoral na Ufersa. Doutor em Direito pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal do Ceará.