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Mossoró
sexta-feira, 24 de outubro, 2025
Por Vonúvio Praxedes
sexta-feira; 24 outubro - 2025

Coluna Dilemas: Reaprendendo o sentido de superar o medo

Impressionante como somos obrigados a aprender e reaprender sentidos, a medida em que estamos vivendo

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Uma quinta-feira de um outubro movimentado. Horas antes, estava sentado em uma das poltronas do Teatro, assistindo à apresentação erudita de uma orquestra sinfônica. Me arrepiei, inúmeros aplausos… Em seguida, fui em direção a um grupo de amigos, fixados em um ambiente musical diversificado, a base agora era o rock. Mossoró tem dessas, te oferece muitas possibilidades entre poucos metros de distância.

Horas depois estava recebendo a mensagem de que meu primo passava por uma cirurgia de risco, caso grave, com complicações. O ânimo cessou! Expliquei a situação a quem me acompanhava e voltei para casa. Quando uma notícia forte é anunciada sem espera, o corpo faz um realinhamento no mundo e cria um estado de absorção único. Cada ser humano vive o processo do seu jeito.

Naquela noite, lembro apenas de concluir o dia com o boletim médico indicando o fim do procedimento cirúrgico e que tinha ocorrido tudo bem, até então. O coração alivia e a cabeça deita no travesseiro com menos peso.

Fiquei imaginando quantas experiências na vida a gente já pôde compartilhar. Vitor é apaixonado por atividades esportivas, automobilísticas, gosta muito de viver e respirar os acontecimentos da cidade. Está sempre atento e disposto a se aventurar. Incontáveis viagens juntos, memórias da infância, pedaladas, coberturas (sim, tem apreço pelo registro, que nem eu). A todo o momento sonhando por algo novo e buscando alcançar.

Do dia 2 de outubro de 2025 até o dia 17, foram muitos altos e baixos. Familiares e amigos se dividindo nas visitas diárias, recebendo atualizações sobre o seu estado de saúde e repassando para os demais. Nesse período, infecção, entubação, outra cirurgia e os níveis de incertezas no que dizia respeito ao futuro, oscilando toda hora.

Com o percorrer das semanas, criou-se internamente uma série de questionamentos. Ainda não o tinha visitado e me sentia mal por isso. A minha mente costuma ser muito mais forte em alguns instantes e aquela imagem dele entubado, em um estado crítico de saúde, não queria ser concretizada através dos meus próprios olhos. Não era só o cérebro que concordava com tal testemunho, o coração também. A última lembrança que tenho da minha mãe no hospital, é com um tubo na garganta, respirando por ventilação mecanizada. Não me sentia pronto e não queria repetir a experiência.

Após a melhora do quadro clínico, respirando sem ajuda de aparelhos, fui cumprir minha missão: a visita. Um caminho desafiador. Estava retornando a uma unidade hospitalar, após algum tempo, que apesar de (tempo esse) considerável, ainda me perturba e abre profundas feridas quando assim deseja. Tento evitar sempre que posso, mas nesse caso, precisava caminhar pelos corredores frios, barulhentos e repletos de pessoas acamadas.

A entrada no leito de UTI é bem rigorosa. O protocolo pede muita higienização, vestimenta esterilizada fornecida pelo lugar e cuidado redobrado com todas as regras exigidas. Meu psicológico foi sendo ocupado pelas atividades que antecediam o reencontro e fiquei estável mentalmente. Conversamos, fomos orientados pela médica do plantão e logo aconteceu a despedida. Minutos depois, a notícia da alta do leito de UTI para um leito de enfermaria. Agradecemos!

A sensação é de que tinha vencido um grande dilema pessoal. Durante longos 15 dias, deixei o medo e a incerteza invadir minha rotina e me privar de circunstâncias, que a meu ver, poderiam ser nocivas. O medo é capaz de condicionar um aumento no sensor de alerta, no entanto, em algumas condições de vida, é necessário entendê-lo como o fio condutor do passo seguinte a ser dado. Fui e me coloquei numa posição de enfrentamento.

Impressionante como somos obrigados a aprender e reaprender sentidos a medida em que estamos vivendo. Surreal o fato de termos que lidar com traumas petrificadores de almas, sem chances de barrá-los e ainda, de maneira involuntária, extrair alguma coisa da ocasião. Nada é só leveza e na fase adulta, transborda em uma realidade recorrente, carregada de obstáculos. Temos como propósito: superá-los.

Para o meu primo que se encontra em recuperação, que brevemente receba alta da enfermaria e retorne ao lar. Sua luta pela permanência da aura, será recompensada com novas memórias e histórias admiráveis. Que assim seja!

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