Por Alexandre Fonseca
Eram exatamente duas horas e cinco minutos da madrugada do dia 31 de dezembro de 2020, quando acordei sentindo dores bem localizadas abaixo do peito. A minha cabeça estava ocupada de pensamentos, dos quais não consigo descrever um sequer. A vontade de voltar a dormir existia, algo tornava o meu desejo impossível. Três horas depois, teria que cumprir meu último dia de trabalho do ano e logo em seguida, me preparar para receber o esperado 2021.
Durante toda a manhã, continuava a sentir os incômodos. Até me queixei deles para um colega de trabalho. Finalizando minhas obrigações, solicitei ao meu chefe sair um pouco mais cedo e fiz o retorno para casa. Estava vivendo uma rotina cotidiana, o novo normal, exceto pelas expectativas da proximidade com a travessia de um ano difícil, para um outro ano, depositando grandes esperanças e resoluções. Talvez tenha criado expectativas demais!
Era meia-noite e um minuto do dia primeiro de janeiro de 2021. Abracei minha mãe, entrei para o meu quarto e foi aí que o descontrole começou. As dores mais intensas dentro do meu corpo, rompiam a minha capacidade natural de respiração, não possuía controle algum, sem explicações. Quando notei que o medo tomara de conta, a única decisão viável e instantânea foi recorrer à ajuda médica.
As mãos tremiam. Os pensamentos embaralhados, surgindo com inúmeras suposições. A ventilação do corpo muito reduzida e o desequilíbrio mental alternando de nível, segundo após segundo. Minutos depois, estava sentado na cadeira em frente ao médico, recebendo o diagnóstico de crise de ansiedade, “todos os sintomas indicam que ele está passando por uma crise, você pensa coisas muito além do que está sentindo de fato”. Mãe preocupada, me pedia calma, “não é culpa dele”, acrescentou o profissional.
Iniciavam as minhas primeiras e desafiadoras cinco horas do ano de 2021: o momento da internação. Por ser madrugada, era tudo muito escuro e a pouca luz do ambiente, não tinha noção da sua origem. Imaginei tantas coisas deitado na cama do Hospital… Costumo ser muito rigoroso com as medidas de proteção contra o novo coronavírus e o maior desespero veio na ideia errônea de tê-lo contraído, pela dificuldade ao respirar.
“Toma esse comprimido aqui”, “tiraram seu sangue”, “vou usar a máquina pra fazer os exames do coração”, “injetaram alguma coisa em você”. Foram as frases que escutei durante o período de reclusão. Permaneci estático praticamente todo o tempo. Me apegava na vontade de viver e realizar todos os meus projetos para o novo ano. Aos poucos, a calmaria transformava a experiência assustadora, em estabilidade.
“Como você deixou isso acontecer?” Provavelmente tenha sido os nove, dez meses de quarentena, saindo apenas em ocasiões necessárias, duas delas, buscando conceber memórias tranquilas, de puro lazer. Constante preocupação por ter ao meu lado, pessoas que não se incomodam com o não uso da máscara. Cansaço emocional por viver, na maioria do tempo, dentro do meu quarto. Desequilíbrio com a alimentação, angústia… e todas as turbulências dos últimos dias de 2020. São as razões que encontro como resposta.
Sempre acreditei que poderia controlar minhas pequenas crises. Na minha mente, preservava um poder satisfatório para intervir em qualquer situação que me parecesse instável. Se provou o contrário! Ainda não tenho clareza sobre o real motivo de um colapso tão profundo, gerado em questão de minutos. A certeza que impera em relação ao que sou hoje, é da necessidade de um profissional que direcione meus estados físico e mental, para um trabalho em conjunto. Sinto que ainda preciso promover atos significativos por aqui. E se isso foi um alerta para gerar mudanças cruciais nos meus próximos passos, eu aceito e assim, farei acontecer!
Vivam o 2021! E o mais importante de tudo, procure ajuda, não permita acumulações.