Antônio Leoandson da Silva Andrade, tinha completado treze anos em junho de 2019 e estava no início da adolescência compartilhando com a família os primeiros aprendizados do que seria potencialmente, um adulto com responsabilidades quando chegasse o momento. Não teve a chance! No sábado, dia 10 de agosto do mesmo ano, por volta das 19 horas, tiraram sua vida. Um ato que ultrapassa a banalidade. Foi morto numa estrada de terra, escura, ao lado de sua bicicleta. Nove tiros, treze anos apenas.
O garoto voltava para casa, tinha acabado de comprar um boné que seria o presente do dia dos pais. Seja lá qual for a justificativa que usaram como forma de descrever o ocorrido, o resultado é que o menino não conseguiu entregar o objeto. Não concluiu o gesto de carinho e amor, que por mais simples que fosse o item, iria ter significado. O abraço forte que poderia ter oferecido a quem lhe deu a vida, não aconteceu. Na cena, o troco e o produto que comprou reversavam as suas mãos manchadas pelo próprio sangue. Foi o desfecho!
O avô de Leoandson até chegou a ouvir os disparos, tentou se aproximar, mas foi rechaçado com tiros e por sorte, escapou. Insistente, decidiu voltar, colocando o neto em seus braços um pouco antes dele falecer. Não permitiu que o medo o deixasse de acompanhá-lo nos últimos minutos de sua precoce jornada. Após um tempo, nossa equipe foi até o local com a missão de reportar, calado fiquei! Meu papel de analisar a situação estava comprometido, confesso. Fui o mais pragmático que pude ser.
Não tive a coragem de praticar a exploração da desgraça do outro, nem muito menos pedir entrevista a quem tinha acabado de perder um filho da maneira como aconteceu. Presenciar a dor dos familiares questionando como era possível aquela tragédia, não foi fácil. Mantive meus pensamentos longe, segurando o choro o quanto aguentei. Fui firme e só consenti as lágrimas caírem em casa. Já o pai, usando o pouco da força que tinha, falava em alto e bom som, “você vê pela roupa do meu filho que ele é inocente”. A avó, repetia a pergunta, “o que fizeram com Leo?”.
O que testemunhei não deveria ser aceitável em lugar nenhum! O Leo, como era chamado carinhosamente, virou o número de homicídio 115 anunciado nos portais de notícias. Eu, ainda estou assimilando até hoje. Fico pensando como está a vida do seu genitor, marcada para sempre pela antecedência de apenas algumas horas para o dia dos pais. Permanecerá a lembrança do seu filho que não voltou pra lhe presentear, maior ainda a tristeza da pessoa que se culpa por ter pedido para o garoto ir fazer a compra.
Leo tinha um mundo para conhecer! Era apenas uma criança almejando trabalhar de cabeleireiro, seguindo os passos da sua figura paterna, ou talvez qualquer outra profissão que a gente nunca vai descobrir. Não merecia ser vítima de uma violência que não enxerga o inocente, que confunde um ser humano de estatura média, como uma ameaça. Emitir que o Antônio Leoandson da Silva Andrade foi morto por engano, é querer enfiar goela abaixo um argumento podre. Imaginar perder a vida mediante crueldade insana do homem, é perturbador.
Não temos expectativas de um resultado final e aplicação da justiça sobre o caso do pequeno Leoandson. A quem resolvi indagar, responde que existem muitos outros na fila e dificilmente serão elucidados. Na cabeça de alguns, virou estatística. Resta usar as ferramentas que temos na busca por manter viva na memória de todos, que uma criança foi morta pelas mãos do crime e que ela não pode ser reduzida a um número. Era uma vida, era um sonhador de possibilidades e permanece sendo valorizado. Eternamente!