Por Neto Queiroz
A governadora Fátima Bezerra resolveu usar de um pragmatismo simples para montar a sua chapa em 2022 e para assegurar um caminho mais fácil para o sucesso eleitoral. Ela apostou em formar chapa com quem tinha mais potencial de votos e tirar do caminho quem ameaçava seu projeto de reeleição. Simples assim. Fátima excluiu Jean Paul da chapa ao Senado, porque não agregava votos, e trouxe Carlos Eduardo Alves, o adversário que mais lhe ameaçava nas pesquisas da disputa ao governo.
O movimento político de Fátima não é novo. Vem sendo usado há muitos anos no Rio Grande do Norte, exemplo mais clássico disso tivemos em 2014 quando Henrique Alves montou sua chapa do jeito que quis e até se deu ao luxo de escolher quem seria o seu adversário na disputa. Sim, Robinson Faria tentou se aliar com Henrique de todas as formas na pré-campanha daquele ano, mas Henrique já havia definido que Robinson era o melhor adversário para ele derrotar no pleito. E deu no que deu.
Todos têm assistido neste 2022 a tentativa, até agora sem êxito, de formação de uma chapa de oposição para enfrentar Fátima e o PT. O jogo que a governadora tem jogado está dando seus resultados, parece não haver um adversário que possa desassosegar o projeto de reeleição do PT no RN. Ainda é possível que surja alguma formação política para abrigar o palanque oposicionista, mas a dificuldade está sendo grande. As cartas na mão da governadora parecem ditar as regras do jogo nesse momento.
Já dizia o falecido deputado Ricardo Fiúza, em política só se deve temer o fato novo. Enquanto Fátima parece ter controle das variáveis, o risco passa a ser a variável incontrolável. Se de um lado a governadora tirou do cenário os possíveis adversários que poderiam atrapalhar sua reeleição, abre caminho para a possibilidade do inesperado. A mesma premissa que está impedindo a formação de um palanque bem estruturado na oposição, pode servir para que apareça a formação inesperada com um adversário não previsto.
E Fátima tem motivos para se preocupar com a variável incontrolada. Todas as pesquisas mostram que em média dois terços do eleitorado ao serem indagados sobre em quem votariam para o governo nesta eleição, não estão respondendo o nome de Fátima. O que isso significa? Que há uma grande margem de eleitores que não gostaria de votar em Fátima, que está em busca de uma nova opção, uma alternativa que entenda ser melhor.
Considerando que a rejeição da governadora é bem menor que esses dois terços que não citam seu nome como opção de voto, podemos depreender que há um bom percentual destes dois terços que não gostaria de votar em Fátima, porém, na falta de uma opção melhor, poderia mudar de opinião e acabar votando na reeleição como carta de segurança. Traduzindo o argumento: Fátima tem um teto baixo e o eleitor está a procura de uma alternativa melhor, mas se não encontrar, poderá votar em Fátima novamente.
O FATO NOVO PODE SER BRENNO QUEIROGA
Brenno Queiroga é pré-candidato ao Governo pelo Solidariedade em 2022. Já o foi em 2018, obtendo mais de 100 mil votos, supreendendo, principalmente em Natal e em Mossoró. Brenno tem boa oratória, consegue expor com clareza sobre problemas e soluções para o RN, tem domínio técnico dos temas e consegue segurar a atenção quando está expondo seus argumentos. Tem um perfil sereno, educado, boa postura e é elegante nas conversas.
Apresente o perfil de Brenno porque ele parece se aproximar bastante do que o eleitor indeciso está procurando. É óbvio que o eleitor está buscando um candidato que ele possa confiar, que demonstre conhecer os problemas e apresente boas soluções, que seja equilibrado, pacato e que o eleitor possa dizer: “esse tá pronto, tá preparado, parece ser confiável e merece uma chance”.
Não posso deixar de citar o exemplo de Mossoró, em 2020. Rosalba tinha nas pesquisas o mesmo teto baixo que Fátima tem hoje. Havia um terreno pronto para um fato novo. A prefeita apostou num palanque forte, foi buscar na oposição Jorge do Rosário para ser seu vice. Aí surgiu o fato novo, Allyson Bezerra. Um candidato que no começo aparecia apenas como uma aposta incerta, mas que preencheu toda a expectativa do eleitor, passou credibilidade e se mostrou preparado. No final, todos conhecem a história de como um jovem conseguiu derrotar a maior força eleitoral de Mossoró.
Cito Brenno com a possibilidade de ser fato novo na eleição de 2022, não apenas porque ele tem o perfil adequado para agradar aos que estão a procura do candidato certo pra votar, mas porque a oposição está batendo cabeça e sem palanque, deixando o terreno aberto para que um perfil novo ascenda no processo. E também porque Fátima tratou de tirar do páreo quem realmente a ameaçava e ficou exposta ao nome novo. Lembre-se do teto baixo.
E aqui cabe relembrar 2014 novamente. Henrique controlou todas as variáveis, escolheu até seu adversário, e perdeu. Não que Robinson fosse naquele momento o exato perfil do nome novo. Mas, porque o teto baixo de Henrique abriu margem para um opositor que preenchesse minimanente a vontade do eleitor de não votar em Henrique.
Brenno Queiroga pode repetir 2014. Um facilitador é seu perfil, como já descrevi antes. Uma das pesquisas mais recentes divulgadas trouxe Brenno no mesmo degrau de um Ezequiel (tão sonhado para ser o nome da oposição). Isso não é pouco. Os 6 pontos de Brenno nas pesquisas atuais, são os mesmos 6 pontos obtidos no resultado da eleição em 2022. Ou seja, Brenno já tem de início o mesmo que conseguiu ao final de 2018.
O que está faltando para Brenno agora é que seu partido consiga demonstrar a dimensão que sua candidatura pode tomar, num cenário em que a oposição está sem opções. Brenno tem o perfil pessoal adequado para conquistar o eleitor indeciso, a conjuntura eleitoral começa a lhe ser favorável, falta-lhe nesse momento uma robustez política que seu partido pode lhe dar com ações planejadas e certeiras.
O prefeito de Mossoró, Allyson Bezerra, maior expressão do Solidariedade no RN nesse momento, não há dúvidas, terá papel decisivo na criação dessa robustez. No exato momento que Allyson anunciar oficialmente que seu candidato a governador é Brenno Queiroga, a pré-candidatura dá um salto. Com altíssima aprovação da gestão e exercendo uma liderança consolidada no eleitorado mossoroense, o apoio do prefeito vai ser a alavancagem que Brenno necessita.
Por outro lado, tem-se como certo que o partido precisa demonstrar unidade para dar o suporte que o pré-candidato precisa. Seria o momento das lideranças do Solidariedade, prefeitos,deputados, vereadores, expoentes nos municípios, se juntarem em torno da alternativa para dizer ao estado que fazem uma aposta uníssona no nome de Queiroga.
Sou observador da cena política no RN há mais de 30 anos, sei que não sou dono da verdade, mas, pelo pouco de conhecimento que tenho do processo político, há um cenário nesse momento que permite se conjecturar sobre a possibilidade do surgimento de fato novo para 2022. Lembro que fato novo é uma variável na política. As vezes há chances para o fato novo acontecer e ele não acontece. Não é uma equação matemática, é uma possibilidade. Em 2022, me parece, uma possibilidade viável.
Neto Queiroz é jornalista