01 maio 2020

Dilemas: Um cômodo azul

Por Alexandre Fonseca

Há alguns meses, tínhamos um maior contato com a mãe natureza, com a liberdade, sua essência (da maneira como descrevemos particularmente), anos caminhados e múltiplas entrelinhas pra chamar de vida normal. Tínhamos!

Antes do cenário pandêmico acontecer, a “vida normal” era pautada por rotinas, pela quebra de uma ou outra, pela paixão por algo, pela falta ou excesso de amor e os dias iam ganhando formas e conclusões. Atravessamos a ponte de um ano turbulento desejando que 2020 fosse mais próspero. Não seria bem assim! A violência (de vários gêneros) permanece em destaque, notícias difíceis de engolir são sempre publicadas e diversos outros exemplos (um vírus, taxa de mortalidade, política, etc.) fazem parte da lista.

Em contrapartida, o mundo pode ter jeito, pois, originou-se um tom de esperança e renovação nos corações e nas condutas de muitas pessoas. O que representará um começo para boas mudanças. Uns estavam indo muito bem nos planos organizados. Existiam aqueles indecisos com suas escolhas, outros regulando os seus passos nos trilhos das decisões que acreditavam serem as mais justas e por aí vai. Agora existem os humanos se adaptando, reestruturando seus projetos de vida e desenvolvendo atividades solidárias.

Devido ao isolamento social, nos posicionamos diante do espelho com mais frequência. Você acorda, remove a cabeça do travesseiro e pronuncia em alto e bom som uníssono, “mais um dia pra ser o que precisamos”. O que precisamos na real? Viver? Justamente! Mesmo que poucos não compreendam, a vida tem sim importância. Seja ela vivida com cinco, vinte e sete ou oitenta primaveras. São honrosas todas as idades e experiências.

É de fato, entre às cinco e oitenta primaveras que o tempo ganha seu lugar. Tempo existente para uma leitura, pra um sorriso, sentir saudade do abraço apertado que ganhava todas as manhãs. Tempo que demonstra incerteza, que faz a gente criar costume com o barulho do ventilador dentro de um cômodo azul chamado de quarto. Pode até ser de outra cor, um outro cômodo… Dá no mesmo!

Resultado: sobrou a necessidade de ser empático, de não se auto sabotar pensando no quanto a situação é desesperadora, que uma atitude pode significar um grande erro, um grande acerto. Cultivamos leves resquícios de “não aguento mais”, com um pé firmado nas expectativas do tipo, “vou viver melhor quando a turbulência passar”. Era pra estar vivendo desde sempre. Em breve não precisará permanecer no seu cômodo azul, terá o seu poder de definição restabelecido. Aproveite o espelho, se enxergue e garanta a valorização de cada minuto do que será o seu futuro. O futuro, na verdade, já está ocorrendo. Desfrute e só. Faz sentido?

2 thoughts on “Dilemas: Um cômodo azul”

  1. Grandemente suas palavras, a vivência de muitos em um pensamento muito além do que se pode imaginar. O quanto mais poderá surpreender? Somos capazes de tanto e fazemos tão pouco. Parabéns pelo que é como pessoa, pois o admiro em saber que também é um grande escritor..

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