Por Alexandre Fonseca
A sensibilidade de aprender com a experiência do outro, é para poucos. Digo pelo simples fato de procurar absorver no convívio ou na falta dele, o que costumo denominar de parâmetro para uma comunicação consciente, responsável por validar boas relações. Não entendeu? Vamos lá! Com certeza, alguém ao seu redor usa uma rede social qualquer, seja para fofoca, trabalho, consumo de distração, dentre muitas outras opções. O que é algo corriqueiro, no entanto, quando ocorre uma pausa para analisar algumas problemáticas do mundo contemporâneo, podemos dar de cara com o imediatismo de uma certa insegurança.
Sabe aquele amigo que ficou chateado com você por ter visualizado uma determinada mensagem e não ter respondido no tempo de expectativa dele? Então… É o resultado de muitos fatores que unidos, acaba convertido em amparo para uma fraqueza projetada, por vezes, involuntariamente. Daí surgem inúmeros pensamentos sobre ausência de consideração, discussões e afins. Quando digo que aprender com o outro é para poucos, não minto. Tenho um colega que experimentou na pele, uma situação semelhante e decidiu esbravejar em uma de suas redes sociais, o quanto “não suporta a obrigatoriedade de responder notificações como se fosse um termômetro de afeto ou educação”, completando que “por trás da tela, pode ter alguém vivendo um dia ruim, cheio de ocupações. A vida está acontecendo”. O que concordo!
As tecnologias estão alterando o sentido de convergência para dependência. O principal meio de contato para grande parcela do povo é o aparelho eletrônico e com isso, a percepção da realidade está em completa metamorfose, uma das piores possíveis. É com todas as letras um medidor de relacionamentos, no qual, só terei cem por cento de confiança do teu amor, por exemplo, se receber uma mensagem sua. Está tudo muito torto! É com urgência que precisamos restabelecer nossas prioridades sociais e voltar a aplicar o palpável (no sentindo de extensão, de ver o outro, ocupar o mesmo espaço), o toque, o abraço, o ser e o estar. Um smartphone tem o propósito apenas de diminuir distâncias, acelerar alguns processos comunicativos, mas nunca, jamais, deverá ser o indicador de carinho e afeição em definitivo. Utiliza o aparelho para ligar, chamar pra sair. Tenta.
Presenciamos uma conjuntura tão grave que as próprias empresas de aplicativos promoveram modificações importantíssimas em seus produtos, como o Instagram, que removeu o número de curtidas e o WhatsApp, que alterou a forma de visualização dos conteúdos publicados. Os psicólogos hoje, recebem com frequência, pacientes relacionados aos problemas mentais oriundos do universo virtual (como ressaltam dados recentes divulgados pelo Departamento de Psiquiatria da Universidade de Montreal, no Canadá, em pesquisa informada pelo site Estadão). Se uma sociedade que cresce sendo educada pela tela de um smartphone, gera seus anseios, frustrações, assiste um “mundo perfeito” tudo on-line (isso em poucos anos de progresso desde os primeiros testes de uma ligação comum, lá em 1970), está tão afetada com o modo de estabelecer uma compatibilidade real com outros seres humanos… Nós, em pleno 2020, como estaremos daqui a cinquenta anos? O que esperar?