Via InfoMoney/ Lara Rizério
SÃO PAULO – Em meio à queda do minério e alta dos custos de frete, a expectativa dos analistas já era de um resultado sem muito brilho para a mineradora Vale (VALE3) no terceiro trimestre de 2021, ainda que bastante saudáveis.
Contudo, os números foram ainda abaixo do consenso de mercado o que, em conjunto com a queda do minério, fazem a ação cair nesta data. A empresa registrou lucro de US$ 3,886 bilhões no terceiro trimestre de 2021. A média dos analistas consultados pela Refinitiv estimava um lucro de US$ 6,293 bilhões no trimestre.
O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado, por sua vez, foi de US$ 6,938 bilhões, ante projeção Refinitiv de US$ 9,187 bilhões.
Ainda assim, o dado de Ebitda ficou alinhado às expectativas do Bradesco BBI, enquanto os números da divisão de minério de ferro também ficaram em linha com o estimado pela casa, com preços realizados mais fracos (efeito de mecanismos de preços negativos mais preços de referência mais baixos) e custos mais altos.
“Achamos que o resultado abaixo do consenso se deu principalmente na realização do preço do minério de ferro (o
que foi realmente complicado no terceiro trimestre, dada a volatilidade do preço da commodity e o efeito dos mecanismos de preços (por exemplo, preços provisórios, preços defasados e curvas futuras)”, apontam.
A XP também aponta que os resultados operacionais foram piores do que o esperado no terceiro trimestre, com o principal destaque negativo para os preços realizados de minério de ferro abaixo do esperado, de US$ 126,70 a tonelada (12% abaixo das estimativas da casa), embora os custos também tenham subido acima do esperado.
Em Metais Básicos, os preços realizados também decepcionaram, devido a uma greve de trabalhadores que impactou as operações no Canadá. O Fluxo de Caixa Livre das operações foi de US$ 7,7 bilhões em razão do forte impacto da variação no capital de giro, apesar do Ebitda mais baixo.
O Itaú BBA também destacou que o Ebitda ajustado veio em linha com a sua estimativa, mas 12% abaixo do consenso mercado.
Segundo o banco, a deterioração do Ebitda foi impulsionada principalmente por uma redução de nos preços médios de minério de ferro realizados, aumento nos custos de entrega na China, menores vendas de níquel e cobre devido a interrupções no Canadá e o impacto negativo dos preços provisórios do cobre.
Porém, na esteira do balanço, esteve o anúncio do novo programa de recompra de cerca de US$ 2,6 bilhões. Ele foi anunciado conforme a companhia se aproxima da conclusão do programa atual, que teve aproximadamente 268 milhões (dos 270 milhões de ações) recompradas até a véspera.
O novo programa de recompra será limitado a, no máximo, 200 milhões de ações e seus respectivos ADRs, que representem até 4,1% do total de ações em circulação. O programa será realizado em um período de até 18 meses.
O BBI aponta esperar que a remuneração dos acionistas permaneça saudável, prevendo cerca de US$ 9 bilhões em 2022, 15% do market cap, com dividendos mínimos de US$ 5,4 bilhões, o novo programa de recompra e potenciais
dividendos extraordinários de US$ 1 bilhão.
“Seguimos com recomendação de compra. Os preços do minério de ferro têm se mantido em níveis mais saudáveis recentemente, apesar da produção de aço chinesa mais fraca (controles de emissões e restrições para indústrias intensivas em energia), apoiados pelas margens das siderúrgicas bem acima da média”, apontam os analistas.
Olhando para 2022, não esperam uma queda relevante na demanda de aço, enquanto o fornecimento de minério de ferro continua com desempenho inferior (incluindo potencialmente a Vale), o que ainda implicaria em fundamentos gerais do mercado de minério de ferro saudáveis. Sob um cenário hipotético de preço do minério de ferro a US$ 100 a tonelada, câmbio à vista (R$ 5,60) e 325 milhões de toneladas de vendas em 2022, a Vale ainda estaria sendo negociada
a um razoável múltiplo de 3,5 vezes o Enterprise Value sobre o Ebitda (EV/Ebitda), avaliam.
A XP também destacou manter recomendação de compra para os ativos da mineradora. O Itaú BBA tem recomendação equivalente, outperform (desempenho acima da média do mercado), mas destacou que vê chance de revisar as suas estimativas para baixo.
Já o Morgan Stanley, que cortou a recomendação no final de setembro para o ADR (American Depositary Receipt) da companhia, destacando vento contrário da perspectiva de preços mais baixos do minério nos próximos anos devido a uma perspectiva estrutural desafiadora, manteve sua visão equalweight (exposição em linha com a média do mercado) para o papel. Cabe destacar que, em meio à forte volatilidade recente da commodity, diversas casas têm reduzido as suas apostas para a mineradora, enquanto o noticiário sobre minério de ferro e China devem seguir dando o tom para os ativos no curto prazo.
Isso pode ser observado no movimento desta sexta-feira (29) para os papéis. Às 10h30 (horário de Brasília), os papéis caíam cerca de 2%, na casa dos R$ 72, repercutindo, além do resultado abaixo, o cenário para a a commodity.
Conforme destaca a Bloomberg, os contratos futuros estão prestes a concluir um quarto mês de quedas. A menor produção de aço e a aversão a risco nos mercados de commodities em geral abalou as cotações dessa matéria-prima da indústria siderúrgica.
Segundo projeções de bancos, limites à produção – incluindo o mais recente aplicado na cidade de Tangshan em uma tentativa de reduzir as emissões poluentes – levarão a tonelada de minério de ferro a US$ 100. Uma demorada crise de energia, que provoca alta volatilidade nos preços do carvão, também impactou o sentimento nos mercados de metais e minério de ferro.